quarta-feira, 21 de maio de 2008

De volta à Terrinha

Uma curta viagem (e um pedágio de 9 euros!) nos trouxe através da fronteira de volta a terras lusitanas. Hoje estamos em Évora, antiga cidade murada a leste de Lisboa. Não só uma boa parada estratégica antes de encerrarmos nosso passeio ibérico, como também um lugar com bons passeios, o primeiro deles totalmente inesperado. Vistamos megalitos. Sim, grandes círculos de pedras erguidos a milhares de anos a.C.. Eu esperava encontrar este tipo de coisa em Stonehenge, ou mesmo em alguma floresta do norte da Europa, mas parece que os antigos Manuéis e as Marias de outrora também tinham uma veia druídica.


Eram os portugueses astronautas?

O passeio neolítico foi interessante e teve até estradas de terra, mas de tarde voltamos para a civilização e passamos para o interior da cidade murada. Dentro dos muros, Évora é como Ouro Preto, mas com ruínas romanas. Cheia de ladeiras e ruazinhas estreitas (bem estreitas), a cidade tem muito a cara do Brasil colonial (ou seria o contrário? o Brasil colonial tem cara da velha Portugal?). Se o centro histórico de Córdoba era um purgatório automobilístico, a cidade murada de Évora deve ser o inferno. Ao invés de um bairro, boa parte da cidade tem ruazinhas muito estreitas, quase todas com transito de carros e sem calçadas. Isso não impede, é claro, que os motoristas dirijam na mesma velocidade que na parte moderna e bem sinalizada de fora dos muros. E como no resto das cidades onde passamos, não existem vagas em lugar nenhum.

Subindo e descendo morros, topamos com um antigo templo de Diana ainda bem conservado e várias igrejas católicas. Uma que chamou a atenção, mais pela sua bizarrice do que pelo bom gosto, foi a Igreja de São Francisco, onde se encontra a Capela dos Ossos. Cerca de 6 mil crânios e mais um monte de ossos que eu não sei o nome cobrem as paredes e colunas desta pequena capela dedicada à morte.


Acredite... se quiser...

Adiós, España

Mais um post que entra depois da hora. Desde esta manhã que me encontro em territórios lusitanos, mas só agora consigo uma maneira de ficar online. Pagando, infelizmente, mas o PT (não o partido, a Portugal Telecom) só cobra um olho e um rim por hora de acesso, bem melhor que os espanhóis, que exigiam pelo menos 40 escravos tirados da minha tribo no Brasil. Incoerências à parte...

Dois últimos dias em terras espanholas, nossa primeira parada após sairmos de Granada foi a cidade de Córdoba, importante cidade muçulmana durante o período mouro. Nela se encontra a Mesquita de Córdoba (não diga!), um enorme salão que servia para muitas das atividades da cidade. Deixa eu repetir isso de uma maneira mais clara: um ENORME salão. Eu chutaria mais de 10.000 metros quadrados de espaço coberto, com o teto sustentado por mais de 900 colunas em mármore (eu não contei, a propósito), arcos coloridos e paredes de mosaicos e estuque.


O ambiente é pouco iluminado, mas imaginem que as colunas continuam.


Além do local de oração (do lado de fora da mesquita se encontra um jardim com laranjeiras e o minarete), a mesquita servia como foro para decisões importantes na cidade. Cidade que, de maneira muito interessante, abrigava as três principais religiões da região: o islamismo, o cristianismo e o judaísmo. Todos tinham direito aos seus cultos e a cidade era um grande centro de Ciências, já que nessa época quem fazia isso eram os sacerdotes. É claro que quem mandava mesmo era o califa, mas não deixava de ser um lugar tolerante. E assim como em Granada, expulsaram os mouros e resolveram transformar a mesquita em catedral. De todos os lugares que visitamos onde a Igreja Católica “reciclou” o templo dos outros, aqui é onde fica mais evidente como uma arquitetura pode ser incompatível com outra. O enorme espaço quadrado não tinha as formas e a estrutura de uma igreja, então o jeito foi sentar uma nave central bem no meio do espaço e povoar as paredes exteriores com pequenas capelas para quase todos os santos que se possa imaginar. As novas adições ficaram bonitas, é claro, porque os cristãos realmente sabiam construir igrejas imponentes na época. Mas ficou um ar de “gambiarra”.


Em frente a esta nave central magnífica, fica um altar de ouro e prata maciço, que se recusava ser fotografado, mesmo com flash.


A sim, o minarete. Este também foi adaptado, virando torre de sinos.


Ah! A modernidade! Se o califa visse isso.

Um detalhe importante que faltou ser mencionado é que a mesquita fica no centro histórico da cidade, um bairro de vielas estreitas onde curiosamente as pessoas tentam utilizar carros. Para ter acesso a este pequeno purgatório automobilístico é preciso passar por uma cancela hi-tech, daquelas que erguem um grande cilindro de aço do chão, impedindo a passagem. É claro que entramos com nosso compacto nessa região, já que precisávamos chegar ao hotel. Pelo menos não tive de entrar aqui:



Como era segunda-feira, muitas das visitas na cidade estavam fechadas e minha mãe resolveu fazer compras. Depois de algumas fotos da ponte romana que ainda sobrevive ali, visitei um pequeno museu interativo que me deu parte das informações que coloquei aqui.
Dia seguinte, rumamos para Mérida, última parada antes de retorna a Portugal. Desta vez ficamos em um hotel um pouco fora da cidade, ao lado de um pequeno centro de entretenimento com praça de alimentação e cinemas (passei na porta do cinema apenas para topar com dois casais de brasileiros decidindo que filme ver... não sei se somos praga ou foi coincidência).

Mérida acabou se tornando uma das paradas mais interessantes. Antiga capital da Lusitânia, uma das três províncias romanas na península ibérica, a cidade ainda guarda muito vestígios da antiga colônia. Aqui ainda existe um bem conservado teatro romano, um anfiteatro (sim, aquele com os leões), um hipódromo, templos, ponte, aqueduto, o foro, dezenas de mosaicos e esculturas e mais um monte de coisas que não conseguimos ver. O principal motivo para perdermos boa parte das exposições foi o horário. Os sítios arqueológicos abriam às 4 da tarde e fechavam... às 6. Ou seja, 2 horas para correr por toda a cidade. Nossa maratona até permitiu ver muitas coisas, das quais tentei tirar o máximo de fotos, mas ainda sim ficaram faltando várias outras.



Nossa sorte foi que o museu tinha horário diferente e entramos após o fechamento dos outros lugares. Este merecia ser visitado pelo menos mais duas vezes. A coleção romana era impressionate, com mosaicos, estátuas, moedas, esculturas, inscrições, ferramentas, vidros, etc, etc, etc. Um espaço enorme e super bem organizado, que ainda por cima construíram sobre um sítio de escavações, provavelmente para proteger a região enquanto os trabalhos continuam (vai que o Indiana precisa procurar algo aqui?)

Pra não dizer que só se fala em coisas velhas aqui, em Mérida também fizemos um excelente almoço, enquanto esperávamos que os vigias dos parques acordassem da siesta para abrirem as exibições. O que do lado de fora parecia um self-service, acabou se mostrando um excelente restaurante com pratos muito gostosos e uma entrada de presuntos defumados excelente (essa região tem presuntos defumados deliciosos). Tomamos uma facada na hora da conta por causa da entrada com os tais presuntos deliciosos (somados a mais uns queijos também muito bons), mas nada que mais uns 15 escravos brasileiros não paguem. Vou mandar um mensageiro à tribo.

Encontramos também uma cópia descarada de nosso comida de boteco. Pra não dizerem que é mentira minha, taí o cartaz. “Tapas”, a propósito, significa petiscos.



Amanhã deixamos Mérida e rumamos para Évora, em Portugal. Um pouco de correria e a sensação de que faltou muito pra ver, mas esta viagem à Espanha valeu a pena. Acho que não vai ser “Adiós!”. Apenas “Hasta luego!”.