sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Batendo palma pra louco dançar

Tive de bater a poeira do blog para responder um diálogo entre o Bruno e o Humberto sobre Star Wars. Vou chover no molhado aqui, mas só pra colocar algumas idéias na discussão:

De um ponto de vista puramente pragmático, a época em que cada uma das trilogias foi feita diz muito sobre suas características e também sobre como seus fãs viram a série. A velha trilogia nasceu no final da década de 70 da cabeça de um nerd que precisou assumir o risco do orçamento pra conseguir que a Fox aprovasse a produção. Com mais conhecimento técnico sobre efeitos especiais que noções de direção de atores, George Lucas se meteu nessa empreitada e acertou a mão, transformando o risco que correu em trocar seu salário por lucro em um grande negócio. Conquistou fãs pois mexia com a cabeça de uma geração que via a alvorada da computação pessoal e o avanço da exploração espacial. A NASA estava em alta, a série Cosmos foi um sucesso e a Guerra Fria trazia pra bem perto a idéia de um Império ameaçando as liberdade individuais. Chegou a fama, chegou o dinheiro... e George passou o posto de diretor para Irvin Kershner, que tinha já alguns anos de experiência na direção (e todo mundo viu o bem que isso fez). Terceiro filme, mesma história: Richard Marquand assume o posto de diretor e Lucas cuida dos efeitos e do marketing, já nesta altura a saga já havia se tornado febre.

Vinte e dois anos depois e Lucas continuava com "Uma Nova Esperança" como último trabalho na direção. Seu amigo Spielberg trabalhou como produtor e diretor todos aqueles anos, e George Lucas achou que podia dirigir também. E aqui as coisas começam a descambar. Por Spielberg sempre ter sido um campeão de entretenimento tipo cinemão, vendendo para o público americano (e mundial) as novas caras bonitas de Hollywood e um bando de produtos para merchandising, Lucas achou que cinemão era só isso. Mas Spielberg sempre soube o que o povo queria. Como discutir com o cara que fez Indiana Jones, ET, A Lista de Schindler e Soldado Ryan? Tenho medo do dia em que Spielberg faça um filme com pessoas pulando e batendo palma e isso se torne a nova mania nacional. Voltando ao SW, George Lucas assumiu a direção de sua nova trilogia tentando reproduzir os elementos que faziam dos filmes de Spielberg um sucesso. Pensou que seu novo foco de público era uma geração crescendo com videogames e fez de sua trama uma ação igualmente rápida e que mantém o interesse igual a um clipe da MTV. Trocou a ameaça única e centralizada de um Império por um punhado de facções, espelho do caos político e nada polarizado dos anos 90. Criou escapes cômicos e bonitinhos para levar as meninas também aos cinemas. Explicou a Força para uma nova geração de cinéfilos sedenta por tramas que explicam tudo (essa é a geração que institucionalizou os reality shows). Enfim, vendeu a alma de sua saga em troca do celular do ano. Fez sucesso? Claro que sim.

Não dá pra dizer que a nova saga seja ruim. Muito pelo contrário, ela foi construída para agradar. E enquanto se assiste puramente como entretenimento à "nova trilogia" é fácil se divertir. Mas a piscina ficou rasa. E os antigos fãs que correram para pular de cabeça descobriram (tarde demais) que seu antigo amigo nerd que fazia filmes havia mudado. Com a cabeça rachada essa turma foi a primeira a gritar de indignação e alguns nerds com mais iniciativa (e criatividade) tomaram em suas mãos a tarefa de trazer de volta para o cinemão a ficção divertida e com alma. Não seria estranho associar o período com o início das produções de "Homem-Aranha" e da trilogia de "O Senhor dos Anéis", ambos dirigidos por nerds que nunca haviam superado a fama de diretores trash. Em muitos aspectos Peter Jackson refez os passos de George Lucas nos anos 70, assumindo riscos imensos no orçamento de "O Senhor dos Anéis" e fundando sua própria empresa de efeitos especiais (a WETA Digital) para ter certeza que sua visão seria respeitada no longa. Antes que alguém venha me jogar datas, a pré-produção da trilogia de Jackson se iniciou em junho/julho de 1999, enquanto "A Ameaça Fantasma" saiu nos cinemas em maio. Mesmo que as negociações sejam anteriores, já que os direitos da produção já pulavam de mão em mão a algum tempo, é possível que o mal resultado do novo filme de Lucas tenha influenciado a maneira que Jackson desenvolveu seu projeto.

Existem dois outros exemplos que são dignos de nota. A infame remasterização da velha trilogia tenta, entre outras coisas, adaptar a saga a um mercado que via (e ainda vê) "politicamente correto" como adjetivo necessário. E o novo desdobramento da saga, as tais Guerras Clônicas que serão exibidas pelo Cartoon, dá o passo seguinte para atingir ainda mais uma geração de consumidores, com adolescente folgados e espertinhos. Talvez para essa nova era Obi-Wan tenha uma página no MySpace.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Cinema mais que (ou menos que) independente

O Celso, primo e co-diretor da mega-corporação internacional que é a Confraria de Cinema, resolveu atender a pedidos e criou um diário com notícias de pós-produção de nosso ramo cinematográfico. Em outra palavras o Celso agora também tem um BLOG.



Tudo bem, ele falou que não vai ficar atualizando e que é só para postar alguma etapa concluída. Mas o Celso tem um blog. Isso pra mim é notícia.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Além dos quadrinhos

Eu lembro quando o Thiago aparecia todo dia com mais uma tirinha de "The Order of the Stick" nas nossas sessões de D&D. Eu lembro como a mania espalhou até que um dia eu mesmo resolvi ler desde a primeira página até a última publicada (quase 400, que eu gastei algumas semanas para ler). Hoje estou viciado.

Mas uma coisa que eu percebi recentemente é uma outra produção interessantíssima do criador de OOTS, Rich Burlew. Trata-se de um setting de D&D que ele começou a criar do zero, completo com história, geografia, raças, cultura, o escambau. O trabalho ainda não está terminado, mas muitos textos já estão disponíveis. Ideal para quem mestra uma campanha com muitos elementos originais e também para quem sempre pensou em fazer uma. Taí o link para o primeiro texto. Sugiro seguir a ordem, já que se trata de uma espécie de diário de produção:

http://www.giantitp.com/articles/YPgbz2j3PckGjjviJU5.html

terça-feira, 10 de junho de 2008

Depois das férias, férias do blog

Foi tão trabalhoso conseguir escrever aqui durante a viagem, que por uma semana eu resolvi deixar as coisas paradas. A densidade de posts vai com certeza diminuir, mas de vez em quando (como hoje), volto para deixar algum comentário interessante.

Esta semana descobri um dos quadrinhos de web mais surtados e engraçados que já vi: The Adventures of Dr. McNinja. Sim, esta é uma história completamente nonsense sobre um médico irlândes que também é um ninja. Quem se interessar pode ler desde a primeira história, quando McNinja enfrenta Ronald MacDonald por ter inventado um sanduíche com seu nome. Ah, e não deixe de parar o mouse sobre as páginas, para ler comentários do criador. Insano e hilário.

domingo, 1 de junho de 2008

Não estou entendendo nada! Parece grego!

Nosso primeiro dia na capital da Grécia era livre para explorarmos a metrópole, então depois de alguma demora para chegar ao hotel e constatar que o trânsito de lá era tão ruim (até pior) que o de Istambul, saímos para passear. Precisávamos matar muito tempo até o horário permitido para o check-in, então caminhamos pela cidade tentando nos guiar por um mapa e placas que estavam, obviamente, escritas em grego. Um desafio e tanto, mas que foi divertido, já que nos levou até o mercado central da cidade, onde encontramos um enorme e bizarro açougue, onde os vendedores disputavam clientes no meio dos freezers.


Detalhe para o cordeiros vendidos com cabeça e olhos. Se você se perguntou sobre a refrigeração, à tarde fazia um calor de quase 40º C.

Depois que parte do grupo resolveu ficar no hotel para fugir do calor e descansar, eu e meu pai rumamos para o excelente Museu Nacional de Arqueologia. Pena que o museu fechava às 15 horas (como muitos museus na Grécia) e tivemos menos de duas horas para visitá-lo. Definitivamente um lugar que pedia uma tarde inteira. E uma câmera, esquecida no hotel (mea culpa!). Resto do dia para comer e matar o tempo.

Nosso último dia de viagem também era o mais interessante em Atenas. Começamos o dia cedo fazendo uma excursão à Acrópole, ponto alto (literalmente) de nossa visita pela capital da antiga Grécia. Sob um sol escaldante, subimos a montanha para visitar o Parthenon, o imponente templo dedicado à deusa Atenas. Acompanhados por uma procissão ininterrupta de turistas e guias falando em todas as línguas imagináveis, olhamos, ouvimos e tiramos fotos.



Na saída encontramos o Sr. Miyagi, com quem tirei uma foto. Tinha de tirar uma foto, senão ninguém ia acreditar, então taí.



Fora da Acrópole, era hora de conhecer mais algumas ruínas. Não sobrou muita coisa do templo de Zeus, com suas colunas de quase 20 metros. Das mais de cem colunas, restam 16. Já o templo de Vulcano ainda está bastante conservado e senta-se imponente na antiga Ágora. O templo só sobreviveu porque os cristãos os usaram como catedral por muitos anos, destino não compartilhado pela maioria das antigas construções, que se tornaram fonte de matéria prima para o resto da cidade. Essas e mais algumas paradas tomaram boa parte de nosso dia e um bocado de pernas em um calor digno do Rio de Janeiro. Mas era o nosso último dia de viagem, então o esforço valeu.



Para nossa tristeza, o dia acabou e também nossas férias. Era hora de arrumar as malas (muitas malas) e se preparar para a maratona de vôos de Atenas para Munique, de Munique para Lisboa, e finalmente de Lisboa para o Brasil. Aproveito o longo vôo para escrever este post, que deve entrar no ar em algumas horas. Enquanto tomamos nosso longo vôo sobre o Atlântico, deixo o desafio: traduzam o seguinte texto (eu tenho a cola).

Popa, proa, bombordo ou estibordo? Hora de embarcar!

Não, eu não fui seqüestrado por modelos nas ilhas gregas (infelizmente!). Como eu já esperava, não havia conexão de internet disponível a bordo, então todos os acontecimentos tiveram que ficar empilhados em um único post final, que eu coloco no ar em Lisboa (o texto já estava sentado no meu computador desde Atenas). Para não ficar grande demais e um pouco monótono, resolvi fazer um resumo do cruzeiro, falando um pouco do navio e de cada parada.

Quando embarcamos em Istambul, nossas primeiras impressões não foram as mais favoráveis. Afinal, saíamos de um quarto luxuoso e nos deparamos com uma cabine um pouco... limitada.



Em meio a outros 600 passageiros, acabamos por nos acostumar com nosso pequeno esconderijo a bordo e não foi muito difícil entrarmos no clima de uma viagem de barco. Afinal, viajando em uma jamanta como aquela em um mar calmo como o Mediterrâneo, o navio não oscilava. Isso, ajudado por uma numerosa tripulação que estava sempre por perto para nos atender, transformou as viagens entre cada destino em períodos tranqüilos na beira da piscina. Infelizmente a idade média dos outros passageiros era bastante avançada, mas para relaxar bastava o sol e a vista do mar. Só era preciso tomar cuidado com as contas, já que as bebidas a bordo carregavam alguns cifrões em excesso. Falando em cifrões, descobrimos uma lição valiosa sobre cruzeiros. Nunca pense que, só porque o passeio já está pago, seus gastos serão reduzidos durante a viagem. Em cada porto o navio oferecia passeios opcionais (com preços elevados). Ignorar esses passeios às vezes podia te deixar sem nada pra fazer em uma cidade portuária qualquer. O melhor mesmo é estudar de antemão as paradas do roteiro e se preparar para aceitar (ou não) os extras oferecidos.

A primeira parada foi na ilha de Myconos. Famosa por suas praias e ponto de encontro dos ricos em viagem pelas ilhas, o lugar era uma espécie de Búzios, mas com a arquitetura típica de casas brancas e azuis e ruazinhas estreitas que tanto vimos no passeio. As praias mais bonitas ficam afastadas da cidade e se precisa pegar um táxi ou alugar algum transporte para chegar nelas. E se você não tomar cuidado, pode ir parar em alguns redutos nudistas.



No segundo dia o navio passou por dois portos. Pela manhã chegamos à Patmos, que poderia ser resumida como uma cidade do interior às 8 da manhã. Nosso barco praticamente dobrou a população da ilha, que não ficou muito abalada com nossa chegada e continuou levando suas crianças para a escola e tomando café na padaria. O lugar era simpático como uma cidadezinha de mil habitantes em um dia de semana. E tão tedioso quanto. Obviamente uma parada para vender o opcional do dia: um passeio pelo Mosteiro de São João, onde o apóstolo escreveu o Apocalipse. Sentamos na praça e vimos o tempo passar. Este (o tempo) passou devagarinho e acenou. Disse que a manhã ia ser longa.

Depois do almoço entramos novamente em território turco, chegando à Kusadasi. Dessa vez o opcional incluía uma visita a um lugar onde Nossa Senhora teria morado, o que me desanimou e a meu pai, então apenas minha mãe entrou no passeio. Enquanto nós ficávamos à toa (de novo!), ela descobria o verdadeiro objetivo do passeio: visitar Éfesso. As ruínas da importante cidade grega eram o verdadeiro motivo da parada e ela aproveitou bastante a visita. Enquanto isso, em outro canto da ilha, caminhávamos por mais um Bazar, nos esquivando dos incontáveis vendedores turcos.

Ródes tomou quase todo o terceiro dia do cruzeiro e dessa vez quem desistiu de sair em excursão foi minha mãe, cansada da caminhada do dia anterior. Viajando pela bela ilha com a ajuda de uma guia que não parava de falar, fomos à Acrópole de Lindos, cidade no extremo da ilha. Escalamos até a Acrópole e vimos um antigo templo, retornando rapidamente ao ônibus para conhecer a capital que leva o mesmo nome da ilha. A cidade antiga de Ródes é fantástica. Suas ruas conservam o estilo das cidades medievais, com ruas de pedras, fortificações e muralhas. A cidade foi sede da Ordem dos Hospitalares, que teve papel importante durante as Cruzadas. Andar por aquelas ruas antigas, entre fossos, muralhas e pedras de catapultas abandonadas foi muito, mas muito divertido.



O quarto dia de navegação nos levou novamente a dois portos: Aegios Nicola (São Nicolau), na ilha de Creta, e Santorini. A parada na ilha de Creta nos deixou com raiva, pois a parada oficial seria na cidade Heráklio. Como para os organizadores só interessava aqueles que fariam o passeio ao Palácio de Knossos, não pensaram duas vezes em aportar nessa cidade sem interesse na ponta da famosa ilha grega. Demos uma volta e esperamos o barco partir. Santorini, por outro lado, compensou as paradas desnecessárias. Não tenho palavras para descrever essa ilha vulcânica, com sua cidadezinha de casas brancas sentada no topo de um enorme paredão negro. Para descermos na ilha, os (vários) cruzeiros precisavam desembarcar por lancha seus passageiros, que então chegavam ao pé do paredão e pegavam um bondinho (quem quisesse podia também subir de burro ou a pé, se tivesse fôlego).



Faltou tempo na ilha. Aliás, acho que tempo suficiente envolveria roubar um banco e mudar para lá. Com a câmera cheia de fotos quase iguais, já que nenhuma parecia fazer justiça à beleza do lugar, sentamos para tomar alguma coisa e apreciar a vista. Em poucas horas retornávamos ao barco, tristes por não poder ficar ali mais um pouco. Mais uma foto, só para ilustrar, mas essa ilha merecia um álbum inteiro.



Depois de mais uma noite a bordo e um bom jantar, nos preparamos para desembarcar em Pireus, porto de onde partiríamos para Atenas. Aliás, os jantares e almoços no navio eram excelentes, com várias opções e boa comida. As mesas, reservadas para cada cabine, tinham garçons individuais, que faziam de tudo para nos agradar. Tudo incluído menos as bebidas, que novamente vinham com alguns cifrões a mais. Depois de acordar cedo para o desembarque, encerramos nosso cruzeiro e chegamos em Atenas. Mas aqui é assunto para outro dia, outro post.

domingo, 25 de maio de 2008

Realmente pra cá de Marraquexe

Depois de uma chegada à Lisboa debaixo de chuva e um vôo ainda de madrugada para Frankfurt, tomamos nossa conexão e finalmente chegamos à Bizâncio. Quer dizer, Constantinopla. Quer dizer, Istambul! Chegamos numa sexta-feira, às 6 horas da tarde, nos colocando no meio de um enorme engarrafamento até o hotel. No sábado eu iria descobrir que na verdade aquilo não era por causa da sexta-feira e que o trânsito aqui é um eterno pandemônio. Eu nunca vi um trânsito tão bagunçado, barulhento, confuso e agressivo como o de Istambul (e olha que eu dirijo no Rio!). De agora em diante, sempre que eu estiver preso no tráfego da Linha Vermelha, pelo menos eu vou poder dizer: “Ainda bem que aqui não é Istambul”.

Apesar dessa primeira constatação, vir aqui foi uma experiência fantástica. Em Portugal e na Espanha, apesar de estarmos longe do Brasil, ainda havia aquela proximidade lingüística. Mas aqui é a Turquia. A língua é incompreensível, ao ponto de não sermos capazes de repetir uma palavra que alguém acabou de dizer. Até o alfabeto é confuso, já que a língua escrita usa muitos caracteres cirílicos, como no russo (na verdade não acho que seja exatamente a mesma coisa, mas foi o que mais me pareceu). Nos lugares mais turísticos até é possível se comunicar em inglês, com algumas dificuldades. A não ser que se esteja tentando comprar algo, o que automaticamente torna o comerciante fluente em todas as línguas e mais uns 3 tipos de comunicação não verbal. Negociar com turcos é como desafiar um jedi para um duelo de espadas. Eles transformaram a barganha em uma arte. E eu com minhas já conhecidas capacidades (ou deveria dizer incapacidades) de negociação. Mas até que me arranjei bem ao fazer negócio no Grande Bazaar. Mas tudo a seu tempo.

Na noite que chegamos, apenas demos uma volta na muito tumultuada praça Taksim, onde jantamos em um restaurante de comida local. Saímos cedo no dia seguinte. O tour agendado nos buscou no hotel e nos encontramos com o resto do grupo e o guia que falava espanhol (o mais divertido foi descobrir que todos do grupo “hispânico” eram na verdade brasileiros). A primeira parada foi no local onde se erguia o antigo hipódromo romano. O hipódromo não existe mais, mas as colunas que marcavam o seu centro ainda estão lá, destacando-se a coluna de granito que os romanos roubaram do templo de Karnak, no Egito.



Ao lado das colunas ergue-se a Mesquita Azul, como nós ocidentais chamamos. Um local de adoração para a religião muçulmana, o lugar é dividido em uma área para os curiosos (e tremendamente inconvenientes) turistas e outra para os fiéis. Pelo menos algum respeito ainda é exigido dos visitantes, que devem remover seus sapatos ao entrarem na mesquita. As mulheres podem entrar, mas devem ter as pernas e ombros cobertos. Panos são oferecidos para as ocidentais despudoradas que resolveram sair de tornozelos à mostra.


Minha mãe estava preocupada em cobrir a cabeça, mas foram os ombros que precisaram ser cobertos.

Praticamente sendo levado pela multidão que visitava a mesquita azul (com direito ao nosso guia bater boca com o segurança do local), fomos para a Igreja de Santa Sofia, ou Hagia Sofia, considerada umas das maravilhas do mundo medieval. Para nossa tristeza, sob a gigantesca cúpula encontramos uma construção estragada, suja e sem muitos indícios de um sério trabalho de restauração. As dimensões impressionam, mas a horda de turistas caminhando pela sua nave escura encontra aqui apenas um andaime que cobre um terço do teto (e que está lá há 10 anos) e muita poeira. Triste ver um pedaço da História assim.



A parada seguinte foi para ver um show de mágica. Hum... melhor eu explicar isso. Fomos a uma loja de tapetes. Os tapetes, infelizmente, não eram mágicos, mas o dono era. Falando um português impressionantemente convincente enquanto gritava coisas indecifráveis para seus ajudantes e arremessava tapetes aos rodopios pelo chão, ele hipnotizou suas potenciais compradoras, que rapidamente entraram na dança da barganha turca. Não sei muita coisa de tapetes, mas devo admitir que eram muito bonitos e que tapetes turcos são coisas caras. Também admito que os mesmos tapetes são muito mais caros no Brasil. Ainda sim, ver tapetes de custavam mais de mil dólares era um pouco fora de minhas posses (e de meus interesses), então apenas observei enquanto cada um dos alvos era avaliado e abatido pelo exímio vendedor. Como eu disse, barganha é uma arte nesse país, e observava um artista.

Depois de uma almoço parco, a visita da tarde era ao Palácio Topkapi, morada de muitos dos sultões que daqui controlaram o Império Otomano até o início do século XX. Então vamos a nossa aula de História do dia. Depois de passar pela mão de povos helênicos por um bocado de tempo, Bizâncio se tornou parte do Império Romano. De parte do Império ela se tornou capital, quando as invasões bárbaras quebraram Roma em várias partes e Constantino fez daqui a capital da Roma oriental, rebatizando a cidade de Constantinopla. Constantinopla cai para os povos islâmicos no século XII (eu acho) e depois de algumas mudanças internas esses povos se reorganizam formando os otomanos, que se expandem para dominar um bocado de terras européias, africanas e asiáticas. Com a II Guerra Mundial, os otomanos são derrotados e a nasce a nação turca, com cede agora em Ankara. Ao contrário do que aconteceu na Espanha, aqui vemos templos de adoração cristãos que se tornaram mesquitas, como no caso da Hagia Sofia. No fundo, toda invasão é igual.


Em alguns lugares foi possível remover o gesso e as tintas e recuperar as imagens cristãs. Mas a maior parte do interior ainda mostra símbolos islâmicos.

Voltando ao Topkapi, o local é dividido em quatro pátios. O mais externo funcionava como praça de serviços, e todo o povão podia freqüentar. O segundo pátio era reservado ao Grão Vizir (uma espécie de Primeiro-Ministro do Sultão) e o resto do Ministério, além de servir de entrada para o harém e os serviços do palácio (como a cozinha, que empregava 800 pessoas). Do terceiro pátio em diante, só o Sultão e sua família tinham acesso, a não ser por uma sala logo à entrada reservada a entrevistas com comitivas e chefes de outros reinos.

Infelizmente os pátios mais internos abrigavam salas onde a fotografia era proibida. Fato compreensível, já que ali estão os tesouros do palácio, como jóias, roupas, baús cheios de esmeraldas e um gigantesco diamante. Mas a vista era excelente, com um panorama do estreito do Bósforo.



Dali, partimos para a parte mais interessante de nossa aventura: o Grande Bazar. Imaginem o Mercado Central em Belo Horizonte. Multipliquem por cem. Agora coloquem 30 pessoas por metro quadrado. Dá pra ter uma idéia do que é o Bazar. Com 4 mil lojas (!!!), deve ser possível encontrar absolutamente qualquer coisa ali dentro. Lá eu fiz uma de minhas únicas compras maiores, um Narguile. Se eu tivesse o espaço, prometo que levaria outros para os meus amigos, porque os preços são realmente baratos, mas não dava pra carregar. A negociação foi divertidíssima e duro uma boa meia hora. Eu já achava o preço barato, mas disse que não tinha tanto dinheiro e ganhei algumas reduções. O problema é que eu realmente não tinha trocado tantas liras turcas e não estava tentando negociar, mas o resultado foi que consegui ainda mais reduções no preço e ainda alguns extras, como tabaco e carvão. Negócio fechado, sentamos para tomar chá de maçã, como é costume em toda negociação na Turquia (é muito bom, mesmo assim não recuse pois é falta de educação). Faltando poucas horas para o fechamento do comércio, partimos a pé para o Bazar de Especiarias, tendo como guia apenas um papel escrito “Misir Çarsisi”, o nome do Bazar em turco (me ensinaram como pronunciar, mas é difícil). O local estava quase fechando, mas conseguimos comprar pimentas e chás. Peço desculpas pela foto fora de foco. Na tela minúscula da câmera parecia ter ficado boa. Uma tristeza não ter tirado outra. Fico por aqui. Este foi um dia longo.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

De volta à Terrinha

Uma curta viagem (e um pedágio de 9 euros!) nos trouxe através da fronteira de volta a terras lusitanas. Hoje estamos em Évora, antiga cidade murada a leste de Lisboa. Não só uma boa parada estratégica antes de encerrarmos nosso passeio ibérico, como também um lugar com bons passeios, o primeiro deles totalmente inesperado. Vistamos megalitos. Sim, grandes círculos de pedras erguidos a milhares de anos a.C.. Eu esperava encontrar este tipo de coisa em Stonehenge, ou mesmo em alguma floresta do norte da Europa, mas parece que os antigos Manuéis e as Marias de outrora também tinham uma veia druídica.


Eram os portugueses astronautas?

O passeio neolítico foi interessante e teve até estradas de terra, mas de tarde voltamos para a civilização e passamos para o interior da cidade murada. Dentro dos muros, Évora é como Ouro Preto, mas com ruínas romanas. Cheia de ladeiras e ruazinhas estreitas (bem estreitas), a cidade tem muito a cara do Brasil colonial (ou seria o contrário? o Brasil colonial tem cara da velha Portugal?). Se o centro histórico de Córdoba era um purgatório automobilístico, a cidade murada de Évora deve ser o inferno. Ao invés de um bairro, boa parte da cidade tem ruazinhas muito estreitas, quase todas com transito de carros e sem calçadas. Isso não impede, é claro, que os motoristas dirijam na mesma velocidade que na parte moderna e bem sinalizada de fora dos muros. E como no resto das cidades onde passamos, não existem vagas em lugar nenhum.

Subindo e descendo morros, topamos com um antigo templo de Diana ainda bem conservado e várias igrejas católicas. Uma que chamou a atenção, mais pela sua bizarrice do que pelo bom gosto, foi a Igreja de São Francisco, onde se encontra a Capela dos Ossos. Cerca de 6 mil crânios e mais um monte de ossos que eu não sei o nome cobrem as paredes e colunas desta pequena capela dedicada à morte.


Acredite... se quiser...

Adiós, España

Mais um post que entra depois da hora. Desde esta manhã que me encontro em territórios lusitanos, mas só agora consigo uma maneira de ficar online. Pagando, infelizmente, mas o PT (não o partido, a Portugal Telecom) só cobra um olho e um rim por hora de acesso, bem melhor que os espanhóis, que exigiam pelo menos 40 escravos tirados da minha tribo no Brasil. Incoerências à parte...

Dois últimos dias em terras espanholas, nossa primeira parada após sairmos de Granada foi a cidade de Córdoba, importante cidade muçulmana durante o período mouro. Nela se encontra a Mesquita de Córdoba (não diga!), um enorme salão que servia para muitas das atividades da cidade. Deixa eu repetir isso de uma maneira mais clara: um ENORME salão. Eu chutaria mais de 10.000 metros quadrados de espaço coberto, com o teto sustentado por mais de 900 colunas em mármore (eu não contei, a propósito), arcos coloridos e paredes de mosaicos e estuque.


O ambiente é pouco iluminado, mas imaginem que as colunas continuam.


Além do local de oração (do lado de fora da mesquita se encontra um jardim com laranjeiras e o minarete), a mesquita servia como foro para decisões importantes na cidade. Cidade que, de maneira muito interessante, abrigava as três principais religiões da região: o islamismo, o cristianismo e o judaísmo. Todos tinham direito aos seus cultos e a cidade era um grande centro de Ciências, já que nessa época quem fazia isso eram os sacerdotes. É claro que quem mandava mesmo era o califa, mas não deixava de ser um lugar tolerante. E assim como em Granada, expulsaram os mouros e resolveram transformar a mesquita em catedral. De todos os lugares que visitamos onde a Igreja Católica “reciclou” o templo dos outros, aqui é onde fica mais evidente como uma arquitetura pode ser incompatível com outra. O enorme espaço quadrado não tinha as formas e a estrutura de uma igreja, então o jeito foi sentar uma nave central bem no meio do espaço e povoar as paredes exteriores com pequenas capelas para quase todos os santos que se possa imaginar. As novas adições ficaram bonitas, é claro, porque os cristãos realmente sabiam construir igrejas imponentes na época. Mas ficou um ar de “gambiarra”.


Em frente a esta nave central magnífica, fica um altar de ouro e prata maciço, que se recusava ser fotografado, mesmo com flash.


A sim, o minarete. Este também foi adaptado, virando torre de sinos.


Ah! A modernidade! Se o califa visse isso.

Um detalhe importante que faltou ser mencionado é que a mesquita fica no centro histórico da cidade, um bairro de vielas estreitas onde curiosamente as pessoas tentam utilizar carros. Para ter acesso a este pequeno purgatório automobilístico é preciso passar por uma cancela hi-tech, daquelas que erguem um grande cilindro de aço do chão, impedindo a passagem. É claro que entramos com nosso compacto nessa região, já que precisávamos chegar ao hotel. Pelo menos não tive de entrar aqui:



Como era segunda-feira, muitas das visitas na cidade estavam fechadas e minha mãe resolveu fazer compras. Depois de algumas fotos da ponte romana que ainda sobrevive ali, visitei um pequeno museu interativo que me deu parte das informações que coloquei aqui.
Dia seguinte, rumamos para Mérida, última parada antes de retorna a Portugal. Desta vez ficamos em um hotel um pouco fora da cidade, ao lado de um pequeno centro de entretenimento com praça de alimentação e cinemas (passei na porta do cinema apenas para topar com dois casais de brasileiros decidindo que filme ver... não sei se somos praga ou foi coincidência).

Mérida acabou se tornando uma das paradas mais interessantes. Antiga capital da Lusitânia, uma das três províncias romanas na península ibérica, a cidade ainda guarda muito vestígios da antiga colônia. Aqui ainda existe um bem conservado teatro romano, um anfiteatro (sim, aquele com os leões), um hipódromo, templos, ponte, aqueduto, o foro, dezenas de mosaicos e esculturas e mais um monte de coisas que não conseguimos ver. O principal motivo para perdermos boa parte das exposições foi o horário. Os sítios arqueológicos abriam às 4 da tarde e fechavam... às 6. Ou seja, 2 horas para correr por toda a cidade. Nossa maratona até permitiu ver muitas coisas, das quais tentei tirar o máximo de fotos, mas ainda sim ficaram faltando várias outras.



Nossa sorte foi que o museu tinha horário diferente e entramos após o fechamento dos outros lugares. Este merecia ser visitado pelo menos mais duas vezes. A coleção romana era impressionate, com mosaicos, estátuas, moedas, esculturas, inscrições, ferramentas, vidros, etc, etc, etc. Um espaço enorme e super bem organizado, que ainda por cima construíram sobre um sítio de escavações, provavelmente para proteger a região enquanto os trabalhos continuam (vai que o Indiana precisa procurar algo aqui?)

Pra não dizer que só se fala em coisas velhas aqui, em Mérida também fizemos um excelente almoço, enquanto esperávamos que os vigias dos parques acordassem da siesta para abrirem as exibições. O que do lado de fora parecia um self-service, acabou se mostrando um excelente restaurante com pratos muito gostosos e uma entrada de presuntos defumados excelente (essa região tem presuntos defumados deliciosos). Tomamos uma facada na hora da conta por causa da entrada com os tais presuntos deliciosos (somados a mais uns queijos também muito bons), mas nada que mais uns 15 escravos brasileiros não paguem. Vou mandar um mensageiro à tribo.

Encontramos também uma cópia descarada de nosso comida de boteco. Pra não dizerem que é mentira minha, taí o cartaz. “Tapas”, a propósito, significa petiscos.



Amanhã deixamos Mérida e rumamos para Évora, em Portugal. Um pouco de correria e a sensação de que faltou muito pra ver, mas esta viagem à Espanha valeu a pena. Acho que não vai ser “Adiós!”. Apenas “Hasta luego!”.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Alhambra!

Este post devia ter entrado no dia 18, mas a disponibilidade de acesso tem sido menor do que eu imaginava. Pelo menos descobri que os saguões de hotel muitas vezes oferecem wi-fi gratuito! Então, fico aqui... online no saguão.

Nos dois últimos dias fizemos uma pausa nas viagens e ficamos na cidade de Granada. Do check-in no hotel fomos direto para Alhambra, a grande cidadela murada construída no período muçulmano, lá pelos idos do século XII. Fomos direto para a visita pois havíamos agendado um passeio guiado, que traz suas vantagens (ouvimos a história do lugar com um bom guia), mas que no geral envolve uma correria por dentro da enorme visita, que poderia ser mais lenta. Alhambra é tão assombrosa quanto foi a invasão moura: 7 anos para tomar quase toda a península ibérica, 800 anos para os cristãos os tirarem daqui. O lugar é uma enorme cidadela murada, com palácios, mesquita, jardins, fontes, tudo para criar um paraíso que representasse a força dos novos ocupantes. Tanta ostentação claramente trouxe a ira dos cristãos que, em 1492, ao retomarem a última região ocupada, fizeram questão de levantar edifícios ocidentais sobre as obras mouras.


O Palácio de Carlos V nem foi finalizado. Faltou dinheiro na hora de suplantar a arquitetura moura.

Mas a beleza de Alhambra ainda está lá, em salas e pátios. Apenas como nota cultural (afinal, tava faltando cultura inútil por aqui): a arquitetura moura gira sempre em torno de um pátio aberto, onde a água sempre ocupa um lugar central ou de destaque. Ao redor do pátio ficam as entradas para diversos salões, sendo que aqueles nas faces norte e sul do pátio sempre são os mais importantes e mais ricamente decorados. Jardins são freqüentes e as paredes revestidas em relevos muito detalhados em estuque (pó de mármore, pó de alabastro, gesso e clara de ovo), muito coloridos. Infelizmente o tempo e o Sol lavaram as cores, mas o resultado ainda impressiona.



Bati meu recorde de fotos tiradas no palácio. Bobagem tentar colocá-las aqui. Mais uma só para ilustrar.



Fora dos muros de Alhambra fica o Generalife, o jardim de verão do califa (numa cidade que faz 45º C no calor, você corre pra onde pode). Mais alto que a cidadela, o lugar todo é estruturado para receber o máximo de vento e água (engenharia avançada? acho que sim, para uma obra com quase mil anos). Falando em água, tanto o Generalife quanto Alhambra têm fontes e canais para todos os lados, que funcionam só com gravidade... sem comentários.



Depois de quase 3 horas de visita, descemos para a cidade mesmo de Granada, onde descobrimos que não podíamos mais almoçar, pois passava das 4 horas. Sem querer discutir a validade de convenções temporais arbitrárias frente a necessidades biológicas reais, ficamos de bobeira e tomando uma cerveja pelo resto do dia.

O dia seguinte serviu para conhecermos o resto de Granada. A cidade tem uma Universidade importante, com uma porrada de estudantes morando aqui. Como era domingo de manhã, aqueles que estavam acordados estavam na maioria tomando sol nos gramados dos jardins da cidade, por onde passamos enquanto matávamos o tempo. A catedral da cidade também foi uma visita interessante, provando mais uma vez que nossa idéia de ouro em igrejas não chega nem aos pés do que os espanhóis fizeram. Entendi aonde todo aquele ouro foi parar...
Para não contrariar o clima de domingo, matamos o tempo perambulando e vendo a cidade, fechando com um bom jantar. Amanhã voltamos pra estrada.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Como ir da Espanha à Inglaterra e de volta em 40 minutos

O dia começou com uma chuva fina e fria, o quê atrapalhou muito conhecermos melhor Cádis, que descobri ser das mais antigas cidades do mundo, com colonização fenícia. Perdidos numa metrópole chuvosa, o jeito foi seguir viagem, porque programamos muitas paradas ao longo do dia.

A primeira delas foi em um cantinho inglês dentro da Espanha, o território de Gibraltar, de onde a Rainha pode vigiar tudo que se passa na entrada do Mediterrâneo. Rodamos na cidade no pé do monte, falamos inglês (tudo bem, todo mundo lá era espanhol, mas não deixava de ser Inglaterra, oras!) e subimos o quanto deu para tentar ver a África. Eu não sabia, mas até que Gibraltar é uma pedra e tanto. Hércules era mesmo o cara (quem não lembra, a mitologia diz que Hércules abriu o Mediterrâneo separando a montanha de Gibraltar entre a européia e sua equivalente na costa africana)!



De lá partimos para almoçar na cidade de veraneio de Marbella, uma espécie de Búzios na Espanha. Praias bacanas, sol, top less (pena que era uma mulher caída) e um almoço agradável antes de tocar para a estrada de novo.



Dali seguiríamos para Málaga, mas todos no carro (menos eu) haviam ouvido falar de Rhonda, uma cidade ao norte daquela região. E tocamos para Rhonda, eu de novo no volante, sem saber que o que nos esperava era isto.



Mais que dirigir por 50 Km em uma estrada como esta, talvez o mais frustrante tenha sido chegar lá em cima, não conseguir estacionar em quase lugar nenhum, rodar pouquíssimo tempo e descer outros 50 Km das mesmas pirambeiras. Mas ficou a vontade de ficar no lugar mais tempo, que parece ter sido construído dentro de um antigo forte mouro, incrustado em uma grande montanha de mármore.

Fim do dia e muito cansaço na direção, ainda caio na hora do rush em Málaga e tento encontrar um hotel no meio de uma das maiores cidades da região. Depois de muita frustração, pedimos ajuda para um táxista. Por hoje é só, cansei de dirigir.


Venci a montanha!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Um pé no fim do mundo, outro na Espanha

Um pouco mais de estrada e hoje escrevo da Espanha, em uma cidade costeira chamada Cádis (os espanhóis falam Cádi, rapidamente e comendo metade da palavra, ou seja, de forma quase incompreensível). Ontem, como havia dito, deixamos Lisboa em direção ao Algarve, região sul de Portugal. A filosofia na estrada era pegar as estradas mais secundárias que pudéssemos encontrar, passando por tudo quanto é vilazinha do caminho. Na estrada uma paisagem bem simpática, com uns impressionantes geradores eólicos no meio dos campos.



Por algumas horas seguimos estradinhas cheias de curvas e cidadezinhas branquinhas e com 200 metros de extensão, todas de telhados novos. A impressão é que algum subsídio do governo ou mega-corporação resolveu trocar as telhas de toda a Portugal. Conspiração ou não, o resultado ficou bastante bonito.




Nosso destino era o que os romanos chamavam de “fim do mundo”, o ponto mais ao sul do continente europeu. Nesse lugar, que não é o estreito de Gibraltar (Gibraltar fica para amanhã), se situou a escola de navegação de Sagres, fundada por Dom Henriques, no século XV. O lugar tem uma beleza árida, de uma costa pedregosa castigada pelo vento e o mar. O que sobrou da escola está no meio das ruínas de um forte mouro, em uma ponta de terra que avança mar adentro. Acho que a vista fala tudo.




Nossa parada em Sagres demorou um bocado e de lá fomos direto para Faro, cidade costeira onde passamos a noite. O lugar tinha um órgão muito bacana, cuja foto ficou horrível devido à proibição de se usar flash. Então seguimos para Sevilha, entrando em terras espanholas. O legal em Sevilha, além do táxi que andava em cima da calçada e a língua incompreensível, foi visitar uma antiga mesquita transformada em catedral (cristãos folgados!). As dimensões do lugar eram de cair o queixo.



Aqui eu consegui finalmente fotografar um órgão enorme e também o túmulo de Cristóvão Colombo, mas este último ficou borrado (de novo o problema da proibição do uso de flashes). É entrando em lugares como esse que se entende porque a Igreja tinha tanta força na Idade Média. Se hoje dá pra ficar impressionado com as dimensões e a riqueza do prédio, na época tanta ostentação tinha de ser prova que Deus estava do lado dos donos da casa (mesmo que estes tivessem roubado a casa de outra religião anterior). A subida ao minarete, convertido em torre dos sinos, quase matou boa parte de nosso grupo, que não esperava 36 lances de rampas (e 1 lance de escada) até o topo. Felizmente todos sobreviveram e puderam comemorar com uma deliciosa paella.




De volta na estrada para mais 120Km até nossa parada da noite (Cádis, de onde escrevo agora), me diverti dirigindo pelas estradas limpas, planas e ladeadas de flores e campos de trigo. Deixo vocês com um pouco de rodovias de verdade.


terça-feira, 13 de maio de 2008

Castelos medievais e outros de arquiteturas menos ortodoxas

Diário do Capitão Data Estelar 19820302.4: “ Não... devo... pagar... 5 euros por acesso à internet...” Pois é, dá pra entender porque os posts pouco freqüentes. Pelo menos enquanto não saímos de Lisboa, conviver com essas taxas malucas atrapalha bastante a vida de um viajante conectado.
Botando os eventos em dia, ontem a missão era buscar nosso meio de transporte, uma esportiva e aerodinâmica minivan. Claro que o objetivo inicial era tremendamente simples, com a locadora de carros a apenas 500 metros do hotel. Mas como toda trama de aventura, tentaram nos empurrar um carro qualquer, nos forçando a dirigir até o aeroporto para trocar por um veículo um pouco mais decente. A nobre tarefa de pilotar o trambolho pelas ruas de Lisboa obviamente caiu sobre meus ombros; e eu fiz a minha parte me perdendo no caminho (pelo menos o estádio do Benfica é bem bonito... e descobri como chegar a Lyons, na França, saindo de Lisboa).
À tarde começamos realmente a fazer programas interessantes, visitando o bairro de Alfama, onde fica o Castelo de São Jorge. Uma fortificação medieval exatamente como esperamos ver uma (para os meus jogadores, hehehe, tenho um mapa novo de castelo, hehehe), com direito à ponte levadiça e ameias para os arqueiros.



O castelo fica no alto da cidade, com uma vista completa da antiga Lisboa. Quero acreditar que os canhões não ficavam apontados para as casas desde aquela época, mas vai saber qual a tática de repressão que o exército usava naquele tempo.


Essa foto tenta repetir a foto tirada de minha mãe, 30 anos atrás, encostada no mesmo canhão. O tempo (e nem o vento) ajudaram.

À noite, um jantar no Bairro Alto, com direito a um show de fado. Devo admitir que o restaurante era bastante turístico (ou seja, para enganar turista) e que o restaurante típico do dia anterior havia sido muito mais agradável.

Novo dia, partimos para explorar as imediações de Lisboa. Primeiro destino, o Castelo da Pena, na cidade de Sintra. O problema de se chegar em Sintra não é encontrar as placas para a cidade. O problema é escolher em quais confiar. Se todos os caminhos levam à Roma, dois deles com certeza passam por Sintra e, é óbvio, precisamos utilizar os dois para chegar onde queríamos (a surrealidade de se chegar a um lugar sem de fato ter chegado lá ainda me confunde). Talvez as placas divergentes apontando o mesmo destino tivessem algo a ver com tomar o caminho mais longo ou o mais curto, mas ainda era muito cedo para Led Zeppelin ser um fator decisivo em nossa viagem. Pelo menos, depois de subir, subir e subir, a vista compensou.



Eu poderia esperar castelos medievais europeus, castelos ao estilo Luís XIV, ou até castelos de influência moura. Mas eu com certeza não esperava por isso...


Seriam os portugueses devotos de Cthulhu?

Com torres multicoloridas e influências arquitetônicas de uma meia dúzia de origens, o castelo foi o resultado de um arquiteto alemão que provavelmente tomou tanto ácido que incorporou o espírito de Gaudi antes mesmo deste ter existido. Uma pena não poder fotografar o interior, mas os cômodos internos foram projetados para seres menores que o humanóide padrão. Na saída do castelo, uma visita ilustre, Bilbo Bolseiro. (Para os meus jogadores, hehehe, tenho outro mapa de castelo, hehehe)



Dali partimos para outra cidade da região, Cascais. Cascais, assim como Estoril, é uma cidade litorânea ao norte de Lisboa. Muitas das casas ali são obviamente resultados de padarias muito lucrativas em Lisboa. As praias são bonitas... para se observar de longe. Eu não gostaria de nadar em um lugar chamado Boca do Inferno.



Noite se aproximando, aproveitamos para visitar um Outlet, onde se vendem coisas supostamente mais baratas que nas lojas. Era longe, vazio e, pra maioria das pessoas, decepcionante. Eu que não tinha o que fazer lá fui quem saí com mais sacolas. Ainda bem que as excursões aos shoppings supostamente acabaram. Deixo vocês com o pôr-do-sol na ponte Vasco da Gama. Amanhã é dia de partir para o Sul.

domingo, 11 de maio de 2008

Avião, Lisboa, chuva e os pastéis de Belém

Enfim este espaço começa a ser utilizado para seu objetivo principal: um diário de bordo de nossa viagem à Portugal e adjacências. Primeiro coloquemos a quem se refere o "nossa". Viajo com meus pais e um casal de amigos deles. Todos veteranos de Europa, então deixo nas mãos deles boa parte do planejamento de nosso dia-a-dia. Aproveitando também para explicar essa viagem à "Portugal e adjacências" (já que nem são tão adjacentes assim), começamos nossa viajem em Portugal, rodando pelo sul do país e também pela Espanha. De volta a Lisboa, pulamos para Istambul e rapidamente seguimos para a costa grega em um daqueles cruzeiros enormes, finalizando em Atenas, de onde voltamos para Lisboa e de Lisboa para casa. E é na capital lusitana que começou nossa jornada...

Chegamos cedo (hora local 6:30 da matina, 2:30 para nossas cabeças brasileiras) e logo de cara enfrentamos uma fila monstruosa na Imigração (eu tenho três fotos do "evento", cada uma pior que a outra. Efeito 9 horas de poltrona classe econômica). A TAP, tirando vantagem de sua logística lusitana, conseguiu que três vôos brasileiros chegassem ao aeroporto exatamente no mesmo horário. Somados a outros vôos que também traziam não europeus, rapidamente instalou-se um caos de brasileiros falando alto, cansados após quase 10 horas em suas mínimas poltronas de classe econômica, muitos já se preparando para a gritaria. Tudo se resolveu após uma boa espera em uma fila que tinha tantos ziguezagues quanto aquelas nas atrações da Disney (quem não conhece pode imaginar uma fila de banco e estendê-la para um espaço 4D). Passado o comitê de boas vindas, buscamos nossas bagagens em uma área com 8 carrosséis de bagagens, todos indicando origens erradas para as malas que ali desfilavam. Todos muito cansados, mas encontramos nossa bagagem depressa e seguimos para o hotel.



Energias recuperadas, partimos para o nosso primeiro passeio: o Mosteiro dos Jerônimos (acima) e a Torre de Belém. Com o tempo nublado e um frio aumentado pelo vento e uma chuva fina, a solução foi nos escondermos dentro do belíssimo mosteiro, que tem quase 800 anos e é todo esculpido em pedra (sim, todo! Taí a foto que não me deixa mentir sozinho).


Consuelo, Sérgio, Teré e Nelson na clausura do Mosteiro dos Jerônimos

De lá para a Torre de Belém, novamente em baixo de vento e uma chuva fina e fria. A Torre, só para encher algumas linhas com História, serviu como marco para a partida de várias frotas de naus portuguesas, inclusive aquela que veio parar na nossa costa por volta de 500 anos atrás. A propósito, eu acho que os balõezinhos são uma adição recente...



Auto-fotografia é um negócio complicado. Acertar como a cara da gente vai ficar na foto e ainda acertar o fundo é um problema, o qual eu obviamente não soube resolver! Tenho mais 20 dias para dominar a técnica.



E já que estávamos perto da Torre, os famosos pastéis de Belém serviram como nosso terceiro ponto turístico, que visitamos com um bocado de fome. De lá de volta para o hotel, onde parei para colocar as coisas em dia, enquanto descansamos para sair e jantar. A longa viagem acabou se mostrando bastante cansativa. Amanhã nos tornamos turistas motorizados. Dizem que quem tem boca vai à Roma. Vamos ver onde vamos chegar.