domingo, 25 de maio de 2008

Realmente pra cá de Marraquexe

Depois de uma chegada à Lisboa debaixo de chuva e um vôo ainda de madrugada para Frankfurt, tomamos nossa conexão e finalmente chegamos à Bizâncio. Quer dizer, Constantinopla. Quer dizer, Istambul! Chegamos numa sexta-feira, às 6 horas da tarde, nos colocando no meio de um enorme engarrafamento até o hotel. No sábado eu iria descobrir que na verdade aquilo não era por causa da sexta-feira e que o trânsito aqui é um eterno pandemônio. Eu nunca vi um trânsito tão bagunçado, barulhento, confuso e agressivo como o de Istambul (e olha que eu dirijo no Rio!). De agora em diante, sempre que eu estiver preso no tráfego da Linha Vermelha, pelo menos eu vou poder dizer: “Ainda bem que aqui não é Istambul”.

Apesar dessa primeira constatação, vir aqui foi uma experiência fantástica. Em Portugal e na Espanha, apesar de estarmos longe do Brasil, ainda havia aquela proximidade lingüística. Mas aqui é a Turquia. A língua é incompreensível, ao ponto de não sermos capazes de repetir uma palavra que alguém acabou de dizer. Até o alfabeto é confuso, já que a língua escrita usa muitos caracteres cirílicos, como no russo (na verdade não acho que seja exatamente a mesma coisa, mas foi o que mais me pareceu). Nos lugares mais turísticos até é possível se comunicar em inglês, com algumas dificuldades. A não ser que se esteja tentando comprar algo, o que automaticamente torna o comerciante fluente em todas as línguas e mais uns 3 tipos de comunicação não verbal. Negociar com turcos é como desafiar um jedi para um duelo de espadas. Eles transformaram a barganha em uma arte. E eu com minhas já conhecidas capacidades (ou deveria dizer incapacidades) de negociação. Mas até que me arranjei bem ao fazer negócio no Grande Bazaar. Mas tudo a seu tempo.

Na noite que chegamos, apenas demos uma volta na muito tumultuada praça Taksim, onde jantamos em um restaurante de comida local. Saímos cedo no dia seguinte. O tour agendado nos buscou no hotel e nos encontramos com o resto do grupo e o guia que falava espanhol (o mais divertido foi descobrir que todos do grupo “hispânico” eram na verdade brasileiros). A primeira parada foi no local onde se erguia o antigo hipódromo romano. O hipódromo não existe mais, mas as colunas que marcavam o seu centro ainda estão lá, destacando-se a coluna de granito que os romanos roubaram do templo de Karnak, no Egito.



Ao lado das colunas ergue-se a Mesquita Azul, como nós ocidentais chamamos. Um local de adoração para a religião muçulmana, o lugar é dividido em uma área para os curiosos (e tremendamente inconvenientes) turistas e outra para os fiéis. Pelo menos algum respeito ainda é exigido dos visitantes, que devem remover seus sapatos ao entrarem na mesquita. As mulheres podem entrar, mas devem ter as pernas e ombros cobertos. Panos são oferecidos para as ocidentais despudoradas que resolveram sair de tornozelos à mostra.


Minha mãe estava preocupada em cobrir a cabeça, mas foram os ombros que precisaram ser cobertos.

Praticamente sendo levado pela multidão que visitava a mesquita azul (com direito ao nosso guia bater boca com o segurança do local), fomos para a Igreja de Santa Sofia, ou Hagia Sofia, considerada umas das maravilhas do mundo medieval. Para nossa tristeza, sob a gigantesca cúpula encontramos uma construção estragada, suja e sem muitos indícios de um sério trabalho de restauração. As dimensões impressionam, mas a horda de turistas caminhando pela sua nave escura encontra aqui apenas um andaime que cobre um terço do teto (e que está lá há 10 anos) e muita poeira. Triste ver um pedaço da História assim.



A parada seguinte foi para ver um show de mágica. Hum... melhor eu explicar isso. Fomos a uma loja de tapetes. Os tapetes, infelizmente, não eram mágicos, mas o dono era. Falando um português impressionantemente convincente enquanto gritava coisas indecifráveis para seus ajudantes e arremessava tapetes aos rodopios pelo chão, ele hipnotizou suas potenciais compradoras, que rapidamente entraram na dança da barganha turca. Não sei muita coisa de tapetes, mas devo admitir que eram muito bonitos e que tapetes turcos são coisas caras. Também admito que os mesmos tapetes são muito mais caros no Brasil. Ainda sim, ver tapetes de custavam mais de mil dólares era um pouco fora de minhas posses (e de meus interesses), então apenas observei enquanto cada um dos alvos era avaliado e abatido pelo exímio vendedor. Como eu disse, barganha é uma arte nesse país, e observava um artista.

Depois de uma almoço parco, a visita da tarde era ao Palácio Topkapi, morada de muitos dos sultões que daqui controlaram o Império Otomano até o início do século XX. Então vamos a nossa aula de História do dia. Depois de passar pela mão de povos helênicos por um bocado de tempo, Bizâncio se tornou parte do Império Romano. De parte do Império ela se tornou capital, quando as invasões bárbaras quebraram Roma em várias partes e Constantino fez daqui a capital da Roma oriental, rebatizando a cidade de Constantinopla. Constantinopla cai para os povos islâmicos no século XII (eu acho) e depois de algumas mudanças internas esses povos se reorganizam formando os otomanos, que se expandem para dominar um bocado de terras européias, africanas e asiáticas. Com a II Guerra Mundial, os otomanos são derrotados e a nasce a nação turca, com cede agora em Ankara. Ao contrário do que aconteceu na Espanha, aqui vemos templos de adoração cristãos que se tornaram mesquitas, como no caso da Hagia Sofia. No fundo, toda invasão é igual.


Em alguns lugares foi possível remover o gesso e as tintas e recuperar as imagens cristãs. Mas a maior parte do interior ainda mostra símbolos islâmicos.

Voltando ao Topkapi, o local é dividido em quatro pátios. O mais externo funcionava como praça de serviços, e todo o povão podia freqüentar. O segundo pátio era reservado ao Grão Vizir (uma espécie de Primeiro-Ministro do Sultão) e o resto do Ministério, além de servir de entrada para o harém e os serviços do palácio (como a cozinha, que empregava 800 pessoas). Do terceiro pátio em diante, só o Sultão e sua família tinham acesso, a não ser por uma sala logo à entrada reservada a entrevistas com comitivas e chefes de outros reinos.

Infelizmente os pátios mais internos abrigavam salas onde a fotografia era proibida. Fato compreensível, já que ali estão os tesouros do palácio, como jóias, roupas, baús cheios de esmeraldas e um gigantesco diamante. Mas a vista era excelente, com um panorama do estreito do Bósforo.



Dali, partimos para a parte mais interessante de nossa aventura: o Grande Bazar. Imaginem o Mercado Central em Belo Horizonte. Multipliquem por cem. Agora coloquem 30 pessoas por metro quadrado. Dá pra ter uma idéia do que é o Bazar. Com 4 mil lojas (!!!), deve ser possível encontrar absolutamente qualquer coisa ali dentro. Lá eu fiz uma de minhas únicas compras maiores, um Narguile. Se eu tivesse o espaço, prometo que levaria outros para os meus amigos, porque os preços são realmente baratos, mas não dava pra carregar. A negociação foi divertidíssima e duro uma boa meia hora. Eu já achava o preço barato, mas disse que não tinha tanto dinheiro e ganhei algumas reduções. O problema é que eu realmente não tinha trocado tantas liras turcas e não estava tentando negociar, mas o resultado foi que consegui ainda mais reduções no preço e ainda alguns extras, como tabaco e carvão. Negócio fechado, sentamos para tomar chá de maçã, como é costume em toda negociação na Turquia (é muito bom, mesmo assim não recuse pois é falta de educação). Faltando poucas horas para o fechamento do comércio, partimos a pé para o Bazar de Especiarias, tendo como guia apenas um papel escrito “Misir Çarsisi”, o nome do Bazar em turco (me ensinaram como pronunciar, mas é difícil). O local estava quase fechando, mas conseguimos comprar pimentas e chás. Peço desculpas pela foto fora de foco. Na tela minúscula da câmera parecia ter ficado boa. Uma tristeza não ter tirado outra. Fico por aqui. Este foi um dia longo.

3 comentários:

Breno disse...

Fico imaginando as negociações e periécias do marajá Catão em terras de Ali Babá!

|3run0 disse...

hmmm....temperos....

Catão disse...

Eu escrevi sede com 'c' e ninguém me corrigiu? Que horror!